segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Um japonês especialista em cachaça - Capítulo XII




12. Toshiro Sakaguti entra em cena.


            Ao voltar para casa Manoel encontrou Eduarda em companhia da mãe que for a chamada para auxiliar na separação dos presentes. Cumprimentou a sogra e olhou para a grande quantidade de coisas que via dispostas em uma aparente desordem. Quase que imediatamente foi informado da razão dessa separação. Não fazia sentido ficar guardando, talvez por anos, alguns utensílios e equipamentos. Principalmente eletroportáteis. Além de se tornarem obsoletos, havia a questão do transcurso do período de garantia. Melhor seria fazer a troca por alguma coisa que pudesse ser usada imediatamente, até mesmo na cozinha do bar. Ali a utilização era mais intensa e frequente.

            Foi essa sua sugestão para liquidificadores, moedor de carne e principalmente jogos de garfos e facas de mesa. Em dias de maior movimento, por vezes era necessário lavar talheres e mesmo pratos para atender os fregueses. Ali poderiam dispor de boa parte do que haviam ganho em duplicidade. Inclusive panelas, bacias, travessas, sempre seriam úteis no estabelecimento. Eduarda imediatamente viu o acerto de sua decisão em pedir o apoio do marido destinação final dos presentes. Foi separado o que havia de maior qualidade e requinte para ser usado em sua mesa doméstica. Uma boa quantidade foi levado para baixo pelas mãos do ajudante do bar e da garçonete.

            Arminda e sua ajudante receberam de bom grado o reforço de material. Estavam para solicitar a Manoel a compra. Agora isso ficava desnecessário. Ele lembrara da necessidade diante do aumento significativo de movimento ocorrido após a inauguração. Naquela noite, enquanto atendia os clientes e dava conta do caixa, Manoel conversou longamente com um deles que, coincidentemente era marceneiro. Ao falar da questão do armário para colocar as garrafas de bebidas exóticas, especialmente aguardente, o cliente se identificou, predispondo-se a fazer um projeto e trazê-lo a aprovação de Manoel. Diante dos olhos de clientes curiosos ele se pôs a medir as paredes, portas e as partes livres para instalação do móvel. Faria uma coisa bem harmoniosa com o prédio, um pouco antigo, além dos demais móveis do estabelecimento.

            No mês de dezembro vencera a primeira parcela do dinheiro que ficara para trás da comprá do bar. Tinha feito o pagamento sem problemas. O seu Joaquim escrevera agradecendo e indagando do andamento dos negócios. Ele respondera que estava tudo em ordem e, segundo palavras de Francisco, houvera um aumento sensível do movimento com as alterações introduzidas. Com o retorno do casal, o propositor da ideia de realizar campeonatos de sinuca, pebolim e futebol de botão, retornou com um plano de realização alternada de jogos. Uma comissão organizadora seria montada, as regras elaboradas e submetidas à aprovação dos participantes.

            Uma pequena taxa de inscrição seria cobrada para custear as despesas com os troféus, medalhas e alguma outra despesa. Se houvesse sobra seria usado na organização de uma comemoração de encerramento. Todas as partidas disputadas pagariam as taxas normais devidas ao uso das mesas e demais equipamentos. Eduarda sugeriu que incluíssem também as mulheres na disputa. Havia algumas que gostariam certamente de participar. Faltava apenas um convite. Os homens de entreolharam e depois da anuência dos outros interessados ficou estabelecido que haveria abertura para inscrições femininas. Nessa primeira experiência haveria uma competição separada para homens e mulheres. No futuro poderiam fazer duplas de mar

            Nas próximas semanas o grupo se reunia várias vezes por semana em uma mesa do canto, depois da refeição noturna e também nos finais de semana. Elaboraram um rascunho do repulamento, fizeram cópias mimeografadas que foram distribuídas para receber críticas e sugestões. Depois de uma semana fizeram uma reunião e debateram as mudanças. As omissões foram incluídas, mudadas algumas regras até ficarem de acordo com a opinião da maioria. Alguém sugeriu a criação do clube de jogadores de sinuca, pebolim e futebol de botão. Manoel sugeriu que se realizasse o campeonato e depois, se corresse de acordo com o esperado, poderiam pensar na criação de uma associação ou clube.

            O novo regulamento foi multiplicado, dessa vez em stencil a tinta para ficar mais nítido. Com a divulgação da participação feminina no campeonato, uma porção de esposas dos frequentadores começou a comparecer para jogar algumas partidas. Assim poderiam competir em melhores condições. Muitas tinham aprendido a manejar o taco em mesas particulares, havendo entre elas quem fizesse inveja a muitos marmanjos. As duplas foram formadas, havendo em alguns casos um reserva. Ele seria o jogador substituto do titular em caso de necessidade de se ausentar para atender ao seu trabalho. As inscrições foram feitas, chegando a um total de 40 duplas masculinas e 25 femininas.

            Haveria também competição individual, com exceção do pebolim, onde sempre é necessário o jogo em dupla. Os inscritos no futebol de botão escolhiam o clube de sua preferência ou, na impossibilidade de fazer isso, inventavam um nome. Era permitido trazer seu próprio jogo de botões, desde que estivessem dentro das dimensões habituais. Assim as cores seriam as escolhidas pelos jogadores. As partidas seriam em turno e returno, todos contra todos. Cada partida valeria três pontos e em caso de empate cada competidor ou equipe ganharia um ponto. Os melhores classificados, metade dos inscritos inicialmente, disputariam uma segunda fase em forma de eliminatória. Dessa forma continuariam até restarem quatro competidores. Um quadrangular final determinaria os primeiros classificados. Para não criar tumulto as partidas de sinuca, pebolim e futebol de botão seriam realizadas em regime alternado.

            Isso permitiria a formação de grupos de torcedores e até mesmo a participação da mesma pessoa em mais de uma modalidade. A previsão era concluir as três competições no final do mês de julho. Manoel analisou, junto com a esposa, que isso garantiria um movimento forte durante todos esses meses. Por outro lado haveria atração de novos frequentadores, interessados em participar de futuros campeonatos. Talvez até surgisse uma liga de associações entre os diversos bairros. Seria um intercâmbio interessante, uma diversão sadia e de baixo custo para os participantes. Antes de iniciar as disputas Manoel procurou as autoridades policiais em busca de orientação sobre o aspecto legal diante da lei. O delegado responsável sugeriu a obtenção de um alvará suplementar. Isso garantiria o respaldo diante das autoridades em caso de ocorrer algum distúrbio.

            Nesse meio tempo o marceneiro trouxe o rascunho do projeto para confecção do móvel. Explicou detalhadamente, Eduarda deu sugestões de pequenas mudanças, que acabaram por deixar o resultado muito elegante. Discutiram o custo da execução e entraram em acordo de fazer isso em duas etapas. Era viável, sem prejuízo do efeito final. Eram na verdade duas partes que se harmonizavam, sem destoar ao ser instalada primeiro uma e depois complementada com a outra. Dessa maneira, as garrafas que semanalmente se acumulavam, teriam uma destinação adequada. O estabelecimento receberia um adorno complementar, em conformidade com sua atividade.

            Com o campeonato em desenvolvimento, o tempo passava quase sem ser percebido. Todos os dias eram de movimento intenso. Os policiais da delegacia próxima costumavam vistoriar o local com relativa frequência, pois os torcedores que assistiam às competições, provocavam um alarido relativamente forte. Havia um limite de horário, devido à existência nas proximidades de residências. Isso impedia que as competições se estendessem até horas mais avançadas. Somente nos finais de semana havia uma tolerância, permitindo avançar um pouco além das 24 horas. Nos dias úteis, o ruído tinha que ser limitado após as 22 horas. Se houvesse reclamações dos moradores, poderia sofrer sanções, inclusive com cancelamento de alvará. Era comum fechar as portas, deixando apenas uma porta lateral aberta. Assim evitava-se o espalhamento do som para a vizinhança. Mesmo assim, era preciso cuidado.

            O consumo de bebidas e alimentos no período de realização dos jogos era sempre elevado. Isso refletia no conteúdo da caixa registradora ao final de cada dia. Eduarda estava fazendo as aulas de Auto Escola, para obtenção de sua carta de motorista. O opala de Manoel estava ficando pequeno para as necessidades de transportar as mercadorias necessárias ao abastecimento. Estava pensando seriamente em adquirir uma pequena caminhonete, talvez uma kombi. Ela oferecia a vantagem de ser espaçosa e, ao mesmo tempo, proteger as mercadorias do sol e chuva. Não havia necessidade de que fosse nova, uma vez que seria empregada em percursos curtos. Para viagens dispunha do automóvel.

            Procurou nas agências de revenda e encontrou uma com três anos de uso, revisada e com garantia por três meses. A grande vantagem era uma significativa redução no preço inicial. Fez o negócio com uma entrada de 30%, financiando o restante em 24 meses. Os juros eram vantajosos, tornando a aquisição à vista menos atraente. Por sorte havia lugar suficiente na garagem para os dois veículos. Não precisariam deixar nem um nem outro no relento. Em poucos dias Eduarda estaria fazendo o exame no Detran. Se fosse aprovada logo teria a CNH e poderia usar, tanto um quanto o outro veículo, para buscar mercadorias necessárias.

            Quando precisasse atender aos pais em alguma emergência poderia se desincumbir do encargo sem problemas. Em momentos de viagem mais longa, poderiam revezar na direção e percorrer maior distância sem se cansarem além do recomendado. Ela estava animada com o aprendizado. Havia pensado em obter sua habilitação, mas não havendo em casa dos pais um veículo, o assunto havia ficado para mais tarde. Não era prioridade no momento. O casal se entendia muito bem em todos os sentidos. Pareciam feitos um para o outro. As divergências de opinião eram resolvidas com diálogo. A diferença de idade, em vez de dificultar o entendimento, parecia favorecer. Eduarda estava amadurecida o suficiente para ter ultrapassado a impetuosidade da juventude, enquanto Manoel for a temperado pelos contratempos da vida. Aprendera com os tropeços do passado.

            Em meados de abril, durante a semana santa, deu o ar da graça no bar nosso já conhecido Toshyro Sakaguti. Havia conhecido o antigo dono e passara um tempo longo desde sua última passagem por ali. O trabalho o havia mantido longe de alguns prazeres que lhe deveras agradáveis. Um deles era jogar sinuca e quando viu a placa, logo lembrou que antes não havia ali mesas de jogo. Apenas o bar e um restaurante bem limitado. A reforma deixara o local com aparência mais ampla, um visual mais atraente. Entrou e foi assistir aos jogos. Quando quis participar de um jogo ficou sabendo da realização nessa época de jogos do campeonato. No dia seguinte as mesas poderiam ser usadas pelos apreciadores, pois seria dia de jogos de pebolim e futebol de botão.

            Procurou pelo novo proprietário e se apresentou. Não lhe passou despercebida a presença de garrafas variadas de cachaça. Várias dentre elas lhe eram conhecidas do tempo em que viajara constantemente a trabalho pela indústria agroquímica. Indagou como haviam vindo parar ali e soube serem presente de frequentadores ao retornar de viagens pelas regiões em que eram comercializadas. Em instantes entabularam animada conversação. Ele estava se aproximando da aposentadoria. Ainda tinha alguns anos pela frente, porém agora não mais tinha necessidadedes de viajar constantemente. Igualmente soube do acidente que resultara na aposentadoria de Manoel. O risco havia sido alto e a sorte for a grande em escapar com vida.

            Eduarda veio ficar algum tempo com o marido e conheceu também o novo freguês. Também Toshiro casara com idade mais avançada. Estava com os filhos em idade de iniciar a vida escolar e pre-escolar. Era um homem sempre sorridente e logo combinaram se encontrar em momentos de folga. Toshiro ainda morava no bairro da Liberdade, não longe de onde nascera. A família inteira estava naquela região, convivendo com os demais descendentes de imigrantes nipônicos. Era sem dúvida a maior concentração de imigrantes e seus descendentes de japoneses for a do Japão. Até mesmo os nomes de lojas eram em grande parte com letreiros em estilo japonês. As cores da decoração das ruas, os edifícios eram fortes e alegres, bem no estilo oriental. Combinaram se visitar nos meses vindouros. Toshiro estava fixo em São Paulo, em função burocrática. Tinha sob sua responsabilidade uma grande equipe de trabalho.

            Quando o mês de julho estava chegando ao final, os vários grupos de competidores estavam reduzidos a poucos remanescentes. Haviam vencido seus adversários nas diferentes modalidades de competição e iriam disputar os troféus da competição. Eram confeccionados com símbolos das competições em disputa. Além dos três primeiros colocados, haveria também o prêmio do goleador, melhor goleiro, taco de ouro, bola de ouro para os destaques nas diversas habilidades. Os prêmios estavam expostos em um armário envidraçado. Eram cobiçados por muita gene. Um artífice havia se esmeradona elaboração dos mesmos, uma vez que esse tipo de competição não era habitual. Os modelos iriam servir de inspiração para a produção de outras variações posteriores. Isso fizera o custo baixar e permitir que o dinheiro arrecadado cobrisse a despesa.
(http://www.elhombre.com.br/sustentei-minha-familia-apostando-na-sinuca-diz-rui-chapeu/)
            Toshiro lamentou não ter vindo antes para participar da competição. Era bom na sinuca, como também no futebol de botão. Apesar disso era a primeira competição que via ser organizada nos moldes que haviam sido impressos no bairro. Iria se encarregar de difundir a ideia e talvez houvesse futuramente um campeonato a nível da cidade inteira. Quem sabe até mesmo da região metropolitana. Em várias ocasiões veio com a esposa e os filhos para assistir aos jogos finais das competições. Era emocionante ver os melhores jogadores se empenhando ao máximo para derrotar os adversários. Como não poderia haver mais de um primeiro lugar, havia nas regras um critério de desempate, caso assim acontecesse na averiguação final da pontuação. Daí o grande empenho em sair vencedor de qualquer forma.
Rui Chapeu com repórter da época.

            Os torcedores formavam verdadeiros grupos organizados, uns vaiando, outros aplaudindo alternadamente  quando era a vez do outro jogar. Nunca havia visto tamanho empenho em vencer uma partida de sinuca, uma disputa de pebolim ou um jogo de futebol de botão. Até jornalistas estavam presentes para registrar os lances mais emocionantes. Cada bola mandada para caçapa, cada gol, era celebrado com muitos vivas e urras. O bar se tornava uma miniatura do Morumbi ou Parque Antártica. Um mini Maracanã, e os atletas eram hábeis no manejo dos tacos ou dos bonecos da mesa de pebolim. Os melhores no manuseio dos botões, colocação dos goleiros, disposição dos defensores eram celebrados.

            Por final, ao anoitecer do último domingo de julho, a última partida de sinuca foi encerrada e todos os campeões, vices, terceiros colocados estavam determinados. Também os destaques nas variadas aptidões puderam ser identificados. Foi marcado o próximo domingo, primeiro do mês de agosto, para comemorar o encerramento e fazer a entrega dos troféus. O almoço seria especial e festivo. Os convites estavam prontos para serem vendidos com antecedência. Uma porcentagem ficaria para o grupo organizador, servindo de caixa para iniciar uma entidade encarregada de organizar outras competições similares. Não foi esquecido o lucro normal do estabelecimento que arcaria com o trabalho e despesas com fornecimento dos alimentos e bebidas.

Estavam analisando a criação uma associação de sinuca, pebolim e futebol de botão. Um jornalista presente ao evento final informada da existência de uma federação paulista de sinuca e bilhar. Poderiam se filiar depois de registrar o estatuto, cumprir as demais formalidades. Assim as próximas competições poderiam envolver outros salões, congregar maior número de participantes. Se a competição local for a acirrada, era fácil imaginar o efeito causado por uma concorrência com jogadores de outros bairros. O pebolim e futebol de botão ficariam includidos na associação e quando houvesse a formação de federações ou associações a nível metropolitano ou estadual cuidariam da respectiva filiação.

Gradativamente Eduarda assumira a parte administrativa da cozinha. Planejamento de novos pratos, estabelecimento de cardápios, análise de custos e formação de preços das refeições. Deixara por conta de Arminda e suas agora duas ajudantes o comando dos trabalhos junto ao fogão. Haviam decidido em comum acordo com Manoel tentar uma gravidez antes do final do primeiro ano de casados. Nem ela, muito menos ele, estavam em idade de protelar indefinidamente tal momento, pois apreciariam serem avós com idade de gozar esses momentos devidamente. Se se tornassem pais quando a idade de ser avós estivesse próxima, dificilemente teriam energias para curtir os netos.

O almoço foi longo e concorrido. Todos os convites haviam sido vendidos previamente, ficando muita gente querendo que se desse o famoso jeitinho. Só um, ou dois, e assim o número foi acrescido de pelo menos 20% do previsto inicialmente. Dessa forma os últimos comensais terminaram de almoçar quando já eram 15h do primeiro domingo do mês de agosto. No espaço das mesas de jogo havia sido preparado um pequeno palco para realizar a cerimônia de premiação dos vencedores das diversas modalidades de competição. Na hora da cerimônia, os jogos ficaram suspensos de modo a permitir a quem quisesse assistir a cada lance. Novamente jornalistas diversos estavam presentes, sem esquecer uma equipe de reportagem televisiva para divulgar o final do evento no programa Fantástico da Rede Globo naquela noite.

O estabelecimento esteve lotado de clientes a tarde inteira, em grande parte atraídos pelo evento, outros curiosos vindo bisbilhotar o que estava ocorrendo. Nas semanas seguintes os membros da comissão organizadora tiveram encontros com vários líderes de outros bairros, grupos de apreciadores dos jogos. O interesse era organizar competições semelhantes em suas regiões e a experiência serviria de balizador para formas de organização, estabelecimento de regras. O que deveria ser promovido, evitado e proibido. Toda experiência que pudessem levar era valiosa. Ninguém se furtou a compartilhar o aprendizado. Cada um que participara aprendera muito com essa atividade. Até mesmo para levar a outros setores da própria vida, em seus estabelecimentos comerciais de outras naturezas. Havia sempre algo a aproveitar.

Na semana depois da entrega dos trofeus, Eduarda presto o exame de motorista. No dia aprazado estava nervosa e apreensiva. O instrutor foi irrepreensível no seu comportamento. Encarou o momento como algo corriqueiro, procurando deixar a aluna em estado de mais uma aula. Dessa forma conseguiu fazer com que ela não hesitasse para por em prática o que aprendera nas horas de aulas práticas e teóricas. O exame psicotécnico e teórico havia sido feito com antecedência. Dessa forma, a aprovação no exame prático significaria a entrega do documento final após alguns dias depois do exame. Apesar de pequenos erros cometidos, ela se manteve dentro do limite estabelecido para determinar a reprovação.

Chegou em casa com o rosto sorridente. For a aprovada sem problemas. Em apenas alguns dias teria em mãos o documento tão esperado. Não precisaria esperar por Manoel para usar o carro e em caso de necessidade prestar ajuda a ele mesmo. Era uma complementação de sua cidadania. Sentia ser desse momento em diante um pouco mais cidadã do que havia sido até ali. Deu um abraço no marido, seguido de um beijo carinhoso. Para completar faltaria apenas confirmar o que vinha suspeitando há alguns dias. Sua menstruação estava com alguns dias de atraso, mas aguardava sentir o primeiro enjoo para então dar ao marido a notícia da provável novidade. Queria lhe fazer uma surpresa.

Antes de receber sua CNH, teve a sensação que aguardava. Ao escovar os dentes pela manhã sentiu uma leve ânsia, porém logo passou. Quando estava na cozinha preparando com Arminda a lista de compras necessárias para o final da semana, sentiu recrudescer o enjoo. Dessa vez não conseguiu evitar o vômito, precisando correr rapidamente para o lavabo existente ali perto. A cozinheira, dada sua experiência como mãe de cinco filhos, logo soube o que acontecia. Seguiu a patroa para lhe oferecer apoio se fosse necessário. Ao voltarem do lavabo e Eduarda sentar-se para recompor o ânimo, Manoel entrou ali justamente em busca da lista. Ao ver a esposa sentada e um pouco pálida, ficou alarmado. Diante de seu rosto que exprimia angústia, Arminda falou:
- Não é nada para preocupar. Isso deve passar logo e daqui a nove meses mais ou menos vai aparecer a surpresa.
- O que a senhora está dizendo, dona Arminda?
- Acho que vai gostar da surpresa, seu Manoel. Sua esposa está grávida e vai ter um filho. Essa é a novidade.
- Minha Nossa Senhora de Fátima! Quer dizer que eu vou ser pai? Isto é maravilhoso. Vou hoje mesmo contratar uma empregada para fazer o serviço de casa. Não quero minha mulher trabalhando durante a gravidez. Ela pode se machucar e eu jamais me perdoaria.
- Vai com calma seu Manoel. Gravidez não é doença. Eu mesma trabalhei até quase chegar a hora do parto dos meus filhos. Um pouco de atividade faz mais bem do que mal.
Ele se ajoelhou aos pés da esposa e de mãos postas como se fosse rezar, falou:
- O minhã querida! Tu me fazes o mais feliz dos homens. Deus seja louvado. Vou ligar para sua mãe e dar a noticia.
- Espera meu bem. Vamos dar essa notícia juntos. Hoje à noite, deixamos o Francisco e Arminda cuidando um pouco daqui. Vamos fazer uma visita a eles e contamos a novidade.
- Está bem. Se esta é sua vontade, está ótimo. Não a quero contrariar.
- Também não precisa me tratar como se agora eu fosse de vidro. Continuo sendo sua Eduarda de sempre, meu amor.

Terminaram de fazer a lista e os dois saíram juntos para fazer as compras. Manoel estava especialmente falante, parecia uma criança que ganhou brinquedo novo. Era preciso controlar sua loquacidade para não perder tempo com conversações necessárias. Nunca o vira tão falador. Com alguma dificuldade conseguiram voltar a tempo de estarem presentes ao início da hora do almoço. Esse momento era em geral crucial, pois muita gente havia tornado o estabelecimento seu ponto de encontro, o lugar de fazer sua refeição. Outros iam ali adquirir a refeição para levar até a casa e servir à família, toda ocupada em seus trabalhos ou atividades escolares.

Os primeiros a saber da novidade em curso foram Francisco, o outro garçom e a garçonete. Manoel não soubera se conter e lhes contara. Estava eufórico e até alguns clientes mais próximos ficaram sabendo do fato. Desse modo em pouco tempo o bairro inteiro estaria sabendo da novidade. Eduarda, mesmo ardendo de vontade de ligar para a mãe e lhe contar, manteve o controle e esperou pela visita daquela noite. Iria contar à sua família pessoalmente, sem usar de meios intermediários.

A noite custou a chegar e Manoel viu foi uma Eduarda especialmente radiante, pronta para sair. Foi com satisfação que embarcaram no automóvel para percorrer a distância até a casa dos sogros. Ao seu lado a esposa, recostou languidamente a cabeça em seu ombro e ele dirigiu lentamente. Não queria alterar o prazer de sentir aquele momento. Haviam começado em dois há alguns meses e nesse momento existia um minúsculo conjunto de células em rápido crescimento dentro do corpo de Eduarda. Dali nasceria em alguns meses um novo ser, fruto do amor que sentiam um pelo outro. Demoraram bem mais tempo na viagem, mas a ele pareceu pouco o tempo.

Os pais estranharam a visita num dia de semana, um pouco for a do habitual. Mesmo assim aguardaram para saber o que os levara ali naquele momento. Mãe sintonizada com os filhos, logo se liga nas alterações. Dessa forma Manoel ouviu a sogra falar logo depois:
- O que vocês dois estão escondendo?
- Nada minhã sogra.
- Fale minhã filha. Teu marido está querendo me enganar. O que está acontecendo?
- A senhora é adivinha, mãe?
- Vocês não iriam vir aqui sem ter um motivo, na sexta feira á noite, logo quando o movimento no bar é forte. Pode desembuxar.
- Não dá para enganar a senhora. Então lá vai a novidade. Vocês vão ser avós. Senti os primeiros enjoos hoje e minhã menstruação está atrasada.
- Está vendo! Eu sabia que aí tinha coisa.
- Bem, isso quer dizer que vou ser vovô outra vez. O pior vai ser dormir com a avó depois. Hahahahahahaha, falou o pai de Eduarda.
- Sim e eu preciso dormir com o vovô. Também tenho do direito de reclamar.

O casal não demorou pois precisariam dar apoio aos servidores. Logo se despediam para retornar e assim chegaram a tempo de socorrer Francisco e os demais. Eduarda subiu para descansar. Os primeiros dias de gestação estavam provocando alterações inesperadas em seu corpo e sentia um leve cansaço, apesar de não ter feito esforço considerável durante o dia. Ao fechar próximo da meia noite, Manoel a encontrou dormindo aconchegada na cama, em posição semelhante a fetal. Parecia querer abraçar o filho ainda minúsculo em seu seio. Deitou-se suavemente e a cobriu com coberta mais adequada. Parecia tão frágil naquela posição e provavelmente sentiria frio de madrugada. Figou um longo momento acordado, pensamentos voltados para o céu, intercedendo pelo desenvolvimento satisfatório do embrião que se formava.

Já o imaginava em seus braços, dizendo mamãe, papai e gatinhando pela casa. Depois os primeiros passos, passeios no parque, vendo filmes infantis na televisão. Um munto inteiro diferente de seu tempo de criança. Vivera o auge de seus anos infantis e se aproximara da puberdade enquanto na Europa rugia o furor da guerra. A cada passo temiam um bombardeio, uma agressão inesperada, malgrado a aparente neutralidade do regime nacional. Seu filho, ou filha, iria nascer sob os auspícios de um governo provavelmente civil ou pelo menos próximo disso, depois de longos anos de regime militar. Os ventos democráticos sopravam no país que adotara por pátria, e onde crescer economicamente, tornando-se hoje um pequeno e próspero comerciante.


Queria dar ao ser que iria vir ao mundo, uma condição mais promissora do que tivera em sua meninice. Adotara aqui a devoção a Nossa Senhora Aparecida e prometeu ali naquele momento levar a família ao santuário depois do nascimento se tudo ocorresse a contento. Sabia que Eduarda concordaria, pois era muito devota, inclusive mantinha uma pequena imagem da santa sobre a penteadeira, ao lado de seus artigos de toucador. 

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A todos um ótimo 2015.



Te recebemos de braços abertos!

Seja bem-vindo ano 2015!


A cada 365 dias repetimos os mesmos rituais. Preparamos uma ceia especial, bebidas variadas, muitos compram roupas novas e especiais, compilam listas de propósitos a serem postos em prática no novo ano que está se avizinhando. Fazemos a contagem regressiva esperando o momento exato do término de um ano e após um segundo, estmos no novo ano. Em um instante estamos no ano velho. Um mísero segundo depois, estamos no novo ano. 

Enviamos mensagens de Feliz Ano novo aos amigos, parentes, colegas e vizinhos. Hoje, com o advento das redes sociais, usamos esses meios para enviar  nossas mensagens para os quatro cantos do país e por que não dizer, do mundo. Raramente o espaço que circunda o globo é percorrido por tamanha quantidade de ondas eletromagnéticas, transportando as mais diversas mensagens, imagens recentemente colhidas. Tudo isso é ótimo, porém, há certo exagero se pensamos que a simples troca de um algarismo nas datas que iremos apor aos nossos documentos a partir desse momento, irá fazer grande diferença. Essa troca simplesmente é um fato cronológico indicador da passagem inexorável do tempo. Tempo esse que por vezes não aproveitamos na devida forma. Esquecemos de fazer nossa parte, de com nossa parcela na construção de um mundo melhor e mais humano. Somos muito rápidos em lançar às costas de outros personagens o ônus pelo insucesso ou fracasso de nossas vidas.

Habitualmente encontramos algum "bode" expiatório para arcar com a culpa pelos fatos, por vezes terríveis, catastróficos mesmo que acontecem ao nosso redor e pelo resto do mundo. Muito pouco vemos uma atitude de "mea culpa", onde alguém, reconhecendo sua omissão, sua falta de empenho assumindo a responsabilidade por algo de desagradável que aconteceu. No entanto somos bem mais rápidos em nos apropriarmos dos méritos por algo de bom que tenha acontecido. Gostamos de ficar sob os holofotes da mídia, mesmo quando nossa contribuição foi infima e até mesmo nula. Existindo uma pequena chance de usarmos os fatos positivos em nossa autopromoção, é raro haver alguém que hesite. Nosso  ego é, via de regra, bem maior que a nossa capacidade de assumir as nossas culpas. 

Por isso, costumo sempre acrescentar em minhas mensagens de Feliz Ano Novo, os seguintes dizeres: Que sejamos todos capazes de fazer nossa parte, dar nossa contribuição, para que o ano seja realmente melhor. Tenho convicção absoluta de que, se isso acontecer, sem nos importarmos com o que os outros fazem, se todos ficarmos atentos aos nossos atos e cumprirmor nossa tarefa, ao final do ano, no próximo 31 de dezembro, estaremos comemorando a despedida de um ano que ficará na história. Um ano que terá valido a pena viver. Não quero dizer que tudo terá sido resolvido. Isso é utopia, pois a cada solução implementada, novas carências, novas necessidades irão aparecer e novos propósitos serão feitos. Essa é a dinâmica da humanidade. Não podemos deixar de fazer nossa cota, sob a justificativa de que os outros também não fazem a sua, portanto não adiantará nada. De fato, se todos pensarmos assim, iremos caminhar de marcha a ré, em lugar de progredir. 

Vamos fazer individualmente um exame em nossas ações durante 2014 que está prestes a expirar em nosso fuso horário (há lugares em que nesse momento já é 2015). O que passou, passou e não há como desfazer o passado. Façamos o propósito sincero de mudar algumas coisas, por pequenas que sejam, em nossas atitudes, nosso comportamento, e chegaremos no próximo Revelion com a alma mais leve, a satisfação do dever cumprido e com ânimo para iniciar um outro ano, igualmente produtivo, cheio de realizações e conquistas. 

Deixo aqui a todos os leitores, amigos, seguidores, um Próspero e feliz ano de 2015. Muita saúde, paz, amor e fraternidade. 

Décio Adams

Um japonês especialista em cachaça - Capítulo XI



Paróquia São Pedro Apóstolo, Moóca - SP


11. Cresce popularidade do Bar.


            O funcionamento simultâneo do bar junto com o restaurante, além das mesas de jogos, tudo muito bem organizado e limpo, fez crescer a popularidade do estabelecimento de Manoel. As fotos tiradas durante a inauguração ficaram boas e teve dificuldade em escolher algumas para tirar mais cópias. Para isso teve a ajuda de Eduarda e também de Francisco. Levou as escolhidas com os negativos ao laboratório e em três dias estavam prontas. Pode escrever no verso de cada uma algumas palavras, além de uma carta à família. Colocou tudo em um envelope reforçado e foi colocar no correio.

            Devido ao peso o preço foi um pouco salgado, e ainda o envio registrado contribuiu para isso. Queria que não ocorresse risco de extravio, pois as fotos eram importantes. Os documentos para o casamento haviam sido encaminhados estando tudo dentro do previsto. A data foi escolhida e marcada a hora. Por disponibilidade de horários escolheram o dia 08 de janeiro. Teriam preferido uma data no começo de dezembro, mas era muito próximo e não havia como encaixar o dia, nem horário. Era bom dessa forma. Teriam alguns dias a mais para providenciar tudo com mais calma. O mês de janeiro, devido ao período de férias, era, segundo falou Francisco, menos movimentado e poderiam usufruir de alguns dias para viajar em Lua de Mel. Faltava escolher o local para essa viagem.

            Ir para casa de parentes nem pensar. Era um momento exclusivamente deles. Queriam estar a vontade para se dedicar sem reservas um ao outro, se descobrir, se saborear e assim estabelecer um vínculo que esperavam fosse eterno. A época era de muitos desquites, falava-se em legalização do divórcio, mas nem Eduarda, tampouco Manoel pensavam nessa hipótese. Os dois não estavam exatamente em idade de fazer loucuras. Ela tinha completado 28 anos e ele beirava os 50. Estavam maduros para um relacionamento duradouro. Pretendiam ter filhos, mas com moderação, pois os tempos não estavam para colocá-los no mundo apenas pelo prazer de dizer: meu filho. Era necessário cuidar de alimentação, vestuário, educação e garantir um futuro mais promissor.

            Junto com a popularidade, vieram fregueses de outros bairros, mesmo viajantes que passavam a passeio ou a trabalho, passavam horas de lazer à noite ali. Assim ficou sendo um ponto de encontro de pessoas de diferentes procedências e atividades de trabalho. Uma verdadeira salada de profissões, cores, origens e idades. Havia quem viajasse pelo nordeste, pelo centro oeste, pelo sul, sudeste e norte. Em cada lugar que visitavam era possível identificar alguma coisa de típico. As conversas geraram amizades, trocas de informações e até negócios de certa monta começaram a ser combinados ali, durante uma partida de sinuca, futebol de botão, ou diante de um copo de cerveja com salgadinhos.

            Depois de percorrer as diferentes regiões, alguns apareceram e deram a Manoel exemplares de garrafas com cachaças típicas das mais diferentes regiões. Em pouco tempo tinha uma grande variedade. Inicialmente ele as havia colocado em exposição, mas com o aumento do seu número, ameaçavam ocupar o espaço necessário para expor as bebidas que estavam à venda. Como as havia recebido de presente, não tinha intenção de vende-las. Ficariam ali para formar uma coleção. Um cliente sugeriu que mandasse fazer um armário estreito, para colocar junto à parede. Ocuparia pouco espaço vital e deixaria as garrafas expostas para todos verem.

            O casamento estava chegando perto e Manoel decidiu deixar essa decisão para depois da volta da lua de mel. Haviam resolvido passar alguns dias em uma pousada no interior de Minas Gerais. A primeira escolha tinha sido Salvador, Bahia. Quando participaram do curso de preparação para o casamento exigido pelo padre da paróquia, a médica encarregada da palestra sobre cuidados com saúde, fez algumas ponderações. O fato de iniciarem um relacionamento íntimo, especialmente se a noiva ainda fosse virgem, tornava a água salgada desaconselhavel. O rompimento do himen, a fricção dos órgãos genitais durante o ato conjugal, aliados ao sal, poderiam ocasionar irritações. Algo indesejável no momento que estariam iniciando a vida a dois. A profissional foi clara e direta sobre esses assuntos, levando uma porção de casais a mudar seus planos imediatos.

            Uma estadia em uma estância de águas termais, seria bem mais aconchegante e tranquila nesse momento. Foi por isso que escolheram fazer um tour pelo interior de Minas, sem se fixar em um único lugar. Manoel estava bem acostumado a dirigir na estrada e teriam tempo para apreciar cada momento, cada lugar. Seriam os primeiros dias só deles dois. O resto de suas vidas dependeria em grande parte do sucesso ou fracasso desse começo. Escolheram um roteiro, percorrendo a capital Belo Horizonte, Sete Lagoas, Uberlândia, Uberaba e mais alguns lugares. Haveria sempre a possibilidade de mudar o roteiro se alguma coisa assim exigisse.

            Os últimos tempos haviam sido de reforma geral na moradia do andar superior. Muitas vezes Manoel tinha que cuidar para não tropeçar nos materiais que ficavam por ali, para serem usados. A pintura foi toda refeita, assunto em que a future dona da casa foi chamada a dar sua opinião. Depois de feitas as reformas, trataram de adquirir o mobiliário básico. Nem tudo iriam comprar no primeiro momento, em especial os utensílios e mesmo eletro domésticos menores. Os convidados poderiam escolher para lhes dar de presente e ficariam com duplicidade. Isso significaria ser obrigado a trocá-los por outras coisas. Poderiam deixar para completar o que faltasse depois de fazer o balanço final. A paróquia onde o casamento seria realizado, dispunha de amplo salão de festas que era colocado à disposição, por uma pequena taxa, especialmente para a limpeza posterior ao uso.

            Isso deixava a preocupação com o espaço para a festa resolvido. Os convites haviam sido confeccionados e enviados. Manoel não tinha parentes aqui e convidou os antigos colegas de trabalho mais próximos, bem como os irmãos. Apenas o mais velho deles prometeu vir, talvez mais algum membro da família viesse junto. Não tinha certeza. A mãe gostaria muito de vir, mas sua saúde precária não permitia a viagem. Torcia para viver até conhecer o primeiro neto desse seu filho que casava tardiamente. O movimento do bar havia aumentado muito e tinham sido contratados mais um garçom e uma garçonete, bem como uma ajudante de cozinha. A casa vivia cheia de fregueses, em quase todas as horas do dia, menos nos horários de expediente do comércio, quando ocorria um alívio.

            Francisco se encarregaria de controlar as questões financeiras em sua ausência, orientado pelo contador que se comprometeu a vir inspecionar o andamento das coisas no período de ausência do dono. Ele lhe dissera que era preciso delegar alguma coisa. Ninguém consegue cuidar de tudo, sem fazer concessões a alguém. A tentativa de fazer isso levaria a uma situação de cansaço em tão pouco tempo que inviabilizaria a continuidade do trabalho.

            As festas de final de ano Natal, Ano Novo passaram voando e o dia tão esperado chegava cada vez mais perto. Os pais de Eduarda se encarregaram de cuidar dos preparativos, supervisionando tudo no aspecto de alimentos, bebidas e demais detalhes. O vestido de Eduarda estava pronto para experimentar às vésperas do Ano Novo e ela foi fazer a prova para evitar transtornos de última hora. Por sorte a costureira tinha acertado a mão. Apenas pequenos detalhes para ficar em ótimas condições. Manoel encomendara um terno no atelier de um alfaiate que conhecia a muitos anos. Também se encarregou de deixar o noivo em condições de fazer inveja a muitos endinheirados.

            Chegou o dia e às 16 h os noivos, acompanhados dos pais e padrinhos estavam diante do juiz que realizou a cerimônia civil rapidamente. Diante da lei dos homens estavam casados. Faltava agora a benção do sacerdote como representante de Deus para deixar a união de ambos dentro do que preconiza a sociedade. Embora houvesse quem dissesse ser desnecessário tanto papel, eles preferiam seguir os ditames tradicionais. Não custava nada cumprir os ritos e se colocar dentro do que é de costume.

            Depois da cerimônia civil, seguiram novamente para seu domicílios e se prepararam para a cerimônia religiosa. Agora a noiva usaria seu vestido branco, a grinalda e o véu, bem como o bouquet de flores. Quando os relógios marcara 18 h estava Manoel a postos ao lado do altar, rodeado dos padrinhos e seu irmão com a esposa que haviam vindo para a festa. Haviam chegado antes do Ano Novo e aproveitaram para conviver alguns dias, bem como conhecer a nova integrante da família. Logo depois da partida dos noivos para sua viagem, o casal embarcaria de retorno para Portugal.

            A cerimônia foi singela, sem muita ostentação. A igreja fora ornamentada com capricho, mas sem exagero. O fato mais importante iria ocorrer ali diante do altar, não no meio da igreja, ou ao longo do corredor. Após a cerimônia, foi o momento de assinatura dos livro de registros de casamento por noivos, padrinhos pais, irmãos e outras testemunhas, além do padre é claro. A tradicional chuva de arroz aguardava os noivos ao saírem da porta da igreja, onde embarcaram no automóvel e deram volta a quadra, entrando pelo lado oposto para chegarem ao salão de festas. Os convidados haviam passado por uma porta interna para o espaço de festas. Outros tinham ido diretamente do exterior para ali.

            Foram recepcionados com discursos dos padrinhos, um colega de Manoel disse algumas palavras, elogiando a atuação do mesmo enquanto haviam trabalhado juntos. Logo veio a comunicação de o jantar estava servido, esperando os comensais. Como membros da comunidade portuguesa, não poderiam deixar de predominar pratos à base de bacalhau, além de outras iguarias. De bebidas havia vinho e também cerveja, além dos refrigerantes variados. Algumas brincadeiras foram realizadas durante o transcurso da refeição, homenagens foram rendidas aos noivos, poesias foram declamadas, um grupo de canto e viola executou alguns números de músicas típicas, antes de ser cortado e distribuído o bolo de casamento.

            Os noivos se posicionaram adequadamente para que o fotógrafo conseguisse obter uma imagem nítida e clara do momento. O enorme bolo foi sendo cortado depois por mulheres presentes, sendo distribuídos pequenos pratos plásticos com garfinhos também plásticos. A enorme quantidade de talheres que seria necessária, tornava o uso dos metálicos de uso diário, inviável. Dessa forma, uma vez terminado de consumir seu pedaço, deixava-se o prato e garfo sobre a mesa, de onde eram recolhidos e jogados em uma lixeira estrategicamente posicionada. Entre abraços, desejos de felicidade, boa sorte e outros votos, chegou o momento de partirem. Tinham reservado um apartamento em um hotel de São Paulo mesmo, do qual apenas os familiares de Eduarda sabiam o endereço e telefone.

            Na manhã seguinte continuariam a viagem para Minas Gerais onde iniciariam realmente seu passeio e descanso. Realmente partiram cedo, por volta das 7h 30minutos. A estrada estava mediamente movimentada, sendo que o sol começava a elevar a temperatura. Algum tempo depois do almoço alcançaram a divisa entre São Paulo e Minas, de onde ainda iriam percorrer um trecho até chegarem ao primeiro hotel reservado. Haviam planejado ficar ali apenas uma noite e talvez parte do dia seguinte, quando concluiriam o percurso até Belo Horizonte. Assim aconteceu, chegando ao destino perto do anoitecer do segundo dia de casamento. Os próximos 5 dias seriam gastos em conhecer todos os pontos pitorescos da capital mineira e seus arredores.
Rua de Belo Horizonte.

Vista aérea parcial de BH

            Nesse ritmo seguiram por três semanas, percorrendo uma porção de lugares, cada qual mais interessante, todos no interior do estado mineiro. Quando finalmente empreenderam o caminho de retorno, estavam próximos à divisa com o estado de Goiás. Partiram bem cedo pela manhã, pretendendo alcançar São Paulo, encerrando a viagem, até o começo da noite, com alguma folga. Se ocorresse algum imprevisto, poderiam pernoitar no caminho, mas a meta era chegar em casa. Eram quase oito horas da noite do dia 30 de janeiro quando chegaram ao portão de entrada para a garage de sua moradia a partir desse momento. O bar ainda estava em pleno movimento e pouca gente se deu conta de sua chegada.

            Francisco e os auxiliares estavam ocupados demais em atender aos fregueses, para poderem cuidar do movimento no exterior. Dessa forma, ficaram todos surpresos, quando por volta de 9h30, Manoel entrou subitamente no recinto, vindo da parte interna. Em seu encalço vinha Eduarda e os dois foram saudados pela maioria dos frequentadores já seus conhecidos. Os que eram novos logo souberam de quem se tratava e se uniram aos vivas dados pelos demais. Os frequentadores que haviam estabelecido uma relação de amizade, vieram de imediato cumprimentar o casal, indagar da viagem, se tudo correra bem.
Ouro preto

Ouro Preto 2

            Enquanto Manoel circulava pelo salão cumprimentando a todos, Eduarda foi até a cozinha. Foi ver Arminda e a nova auxiliar que estavam ali ultimando a limpeza e deixando algumas coisas preparadas para alguns pedidos tardios que sempre havia. Embora fosse dia de semana, um e outro freguês em geral ficava para até depois das 22 horas. Arminda a cumprimentou e olhou fixamente  seu rosto sorridente, bem disposto, concluindo que a viagem, como também o início da vida conjugal havia corrido da melhor forma possível. Viúva que vivera uma vida profícua com o marido por longos anos, sabia ler no olhar de uma semelhante os sinais de satisfação com seu estado do momento. Ficou contente, pois vira mulheres passarem anos sofrendo as consequências de uma lua de mel com desfecho desagradável.

            Nunca conseguiam uma harmonia total, restando sempre alguma coisa, um ressentimento, um trauma ou uma ponta de tristeza. Algo que não fora satisfatório era motivo de muita tristeza depois. Trocaram algumas palavras e as duas estavam se preparando para voltarem para casa. A hora de encerrar o trabalho já havia passado, mas se deixassem tarefas inconclusas teriam mais trabalho na manhã seguinte. Assim, mesmo se chegassem alguns minutos depois da hora, encontrariam tudo em condições de iniciar logo as atividades do dia, sem sobras do anterior por terminar. Despediu-se de ambas e foi para junto do marido que estava em meio a um grupo de frequentadores conversando.
Uberaba, turismo (Chico Xavier)

Vista de Uberaba

            A sua chegada silenciou a conversação em geral, sinal de que haviam estado a falar de assuntos, considerados impróprios para serem comentados diante da jovem esposa do amigo. Percebendo o fato ela falou sem rodeios:
            - Por que foi que se calaram de repente? Pensam que meus ouvidos são muito delicados para o que estavam falando?
            - É que a gente não lhe conhece direito e não queremos ofender nem melindrar a senhora, - disse um dos mais falantes.
            - Pois podem continuar. Todos os assuntos que interessam ao meu Manoel, também me interessam.

            Entreolharam-se de modo significativo e Manoel, para descontrair, fez a apresentação da esposa aos fregueses. Todos indistintamente apertaram sua mão e desejaram muita felicidade na nova vida que iniciavam.
            - Obrigado a vocês. Sei que em muitos momentos vou estar ali, atrás do balcão atendendo vocês a partir de hoje. Por isso, façam de conta que sou apenas mais um de vocês e sejam alegres, brinquem e falem as besteiras que quiserem.
            - Cuidado, meu bem! Essa turma fala cada uma de arrepiar até cabelo de relógio. Imagine você, minhã dama, minhã rainha. Não é bom dar liberdade demais a eles.
            - Para começar eu consegui ouvir parte de uma frase que fazia alusão a capacidade de meu Manoel ser capaz de me satisfazer como mulher. Pois saibam que ele é um homem com H maiúsculo. Acho que se não fossem as pílulas ele teria me deixado grávida umas dez vezes só nessas três semanas.

            Manoel ficou vermelho igual a um tomate e os amigos caíram em uma gargalhada que se espalhou por todo salão, chamando a atenção dos demais presentes. Logo outros vieram para perto, curiosos por saber o que se passava. Depois de se recuperar do rubor, Manoel falou:
            - Minha querida, assim você tu me deixas encabulado. Vão pensar que eu sou um maníaco insaciável ou coisa parecida.
            - Eu é que não quero catar sabonete do chão perto dele num banheiro de sauna ou vestiário de clube, - falou um mais afoito.
            - E tu pensas que eu iria olhar para uma bunda peluda? Tenho coisa melhor e mais bonita para olhar.

            As risadas foram gerais e logo o casal foi chamado para perto de umas mesas no salão de refeições, onde havia casais terminando de beber umas cervejas e comer salgadinhos. Conversavam animadamente e fizeram questão que eles sentassem um momento com eles. As esposas cumprimentaram afetuosamente Eduarda e trocavam com ela olhares maliciosos. Diziam mais com os olhos do que poderiam exprimir em palavras. A hora já estava adiantada e pouco depois, começou o êxodo deixando gradativamente o salão vazio. Francisco e o garçom se encarregaram de baixar as pesadas cortinas de aço, trancando-as. As portas de vidro foram por sua vez fechadas, mas sem ser chaveadas. Em caso de arrombamento, iriam oferecer pouquíssima resistência e apenas provocariam a destruição do vidro, aumentando o prejuízo.

            Francisco resumiu os fatos relevantes ocorridos na ausência do patrão e deixaram para analisar tudo com mais detalhes no dia seguinte. Era hora de irem dormir, pois se aproximava das onze horas. Arminda e a ajudante haviam se retirado há mais de uma hora. Provavelmente já estariam em casa, talvez mesmo dormindo. Manoel propôs levar os dois em casa ao que eles se opuseram. Certamente ele viera dirigindo por longas horas, pois havia avisado por telefone sobre a viagem naquele dia. Não moravam muito longe o os ônibus nesse momento andavam depressa, com pouco movimento de passageiros. Iam de metrô e em pouco tempo estariam em suas casas.

            Com a saída de todos, Manoel e Eduarda se viram sozinhos em sua casa. Subiram para a moradia e se prepararam para dormir. Os presentes de casamento estavam empilhados em um canto da sala, esperando serem abertos e grande parte. Isso esperaria pelos dias seguintes. Não havia pressa para isso. Estavam cansados da viagem e queriam descansar. Tudo isso sem esquecer antes uma sessão de amor em sua casa. Até aquele momento haviam se amado em diversas camas, sofás, tapetes de apartamentos e mesmo sob o chuveiro. Dessa vez iriam estrear a própria cama, que ainda não fora usada por ninguém.

            Um banho reparador viria a calhar para terem um repouso mais efetivo depois. As roupas ainda estavam nas malas, mas o que não tinham levado na viagem estava guardado no guarda roupa. A mãe de Eduarda se encarregara, junto com uma nora de levar para lá os pertences da filha e arrumar tudo a seu modo. Ao voltar ela daria a destinação que gostasse a cada peça, mas pelo menos não estava tudo jogado de qualquer forma pela casa. Ela olhou e encontrou roupas de dormir que costumava usar antes. Estava ansiosa por vestir suas roupas mais aconchegantes. Na viagem tudo havia sido novo e nem sempre eram muito confortáveis nas primeiras vezes. Manoel fez o mesmo em seu lado do guarda roupa e nas gavetas, de onde retirou o pijama predileto, além de um roupão bem surrado.

            Entraram juntos no chuveiro e enquanto se lavavam faziam carícias mútuas. Ele ensaboou e esfregou as costas da mulher. Depois foi a vez de receber o mesmo tratamento. Dessa forma saíram do chuveiro tendo mal se enxugado e caíram sobre a cama abraçados. O estado de excitação estava elevado e em instantes estavam entrelaçados se amando apaixonadamente. Manoel não tivera muitas experiências com mulheres enquanto solteiro e Eduarda casara virgem. Mesmo assim, ele soubera conduzí-la ao prazer sem dificuldades e ela se entregara sem reservas ao carinho do marido/amante. Não tardara a aprender retribuir e assim haviam alcançado êxtases intensos, mesmo nos primeiros dias de sua vida a dois.

            Ao atingiram o clímax, ainda ficaram alguns minutos trocando carícias e sem perceberem, adormeceram. Algum tempo depois acordaram e apenas puxaram uma colcha para se cobrir pois não fazia frio, apenas o ar mais fresco da madrugada, habitualmente com um pouco de garoa de São Paulo. Dormiram até tarde na manhã seguinte. Nem a preocupação de verificar o andamento de todos os assuntos referentes ao estabelecimento comercial haviam dado resultado. O cansaço e o desejo satisfeito, fizeram a ambos dormirem profundamente.

            Ao acordarem e olharem para o relógio de parede, passava das oito horas. No andar de baixo já era audível o ruido do movimento dos primeiros fregueses. Na cozinha os ruídos de panelas, utensílios sendo manuseados, lavados ou guardados. Eduarda acordou por último e viu o olhar do marido dirigido a ela. Tinha um sorriso maroto no olhar e indagou:
            - Já é tarde?
            - Que é que tu achas, meu bem?
            - Meu Deus! Eu dormi igual uma pedra.
            - E eu então! Nem vi a noite passar. Agora já foi e pronto.

            Levantaram, fizeram sua higiene matinal alternadamente.  Primeiro foi Manoel enquanto Eduarda arrumava os lenções e travesseiros na cama. Acordou nua e nem pensou em se vestir. Apenas colocou um velho peignoir para cobrir o dorso. Estava só com o marido e, nos poucos dias juntos, tinham passado muitas horas apenas usando a própria pele. Quando ele estava terminando de se lavar, ela chegou e o abraçou pelas costas, encostando a pele em seu corpo. Ele estremeceu e falou:
            - Deixa de me provocar, querida. Assim nós vamos voltar para a cama e só saímos daí bem mais tarde.
            - Algum problema com isso, meu amor?
            - Problema não, apenas vamos deixar de cuidar das outras coisas.
            - Isso tudo tem tempo. Eu te amo tanto, meu homem.

            Antes mesmo de se vestirem caíram novamente um nos braços do outro sobre a cama, onde teve lugar mais um ato de amor intense e prolongado. Ao terminarem foram para baixo do chuveiro e tomaram banho. Agora era para remover qualquer cheiro remanescente do suor e emanações dos corpos durante os momentos de sexo intenso. Enxugaram a pele e, enquanto ela se vestia, Manoel desceu para ir ver como estava o movimento. Cumprimentou os funcionários, indagou se havia alguma providência urgente a tomar. Apenas alguns item precisariam ser comprados, mas não havia pressa. Estavam acabando. Não convinha esperar que o estoque se esgotasse, para providenciar a reposição. Poderia deixar para depois, sem problema.

            Tomou uma xícara de café com leite, comeu um pão com manteiga e queijo que havia ali. Foi até a porta da frente olhar o movimento da rua, encontrando o tempo nublado, ameaçando chover. O ar estava abafado e quente. Não tardaria a cair uma chuva bem forte de verão, pelo que era possível observar. Logo a esposa, vestindo um conjunto de saia e blusa leves estava ao seu lado. Ele a abraçou pelos ombros, apontou para o céu e disse:
            - Acho que o céu vai abençoar nossa volta com uma chuva bem forte.
            - Minha mãe sempre diz que chuva é benção de Deus! As vezes acho que não é bem isso. Especialmente quando vem com tempestade, granizo, raios e trovões.
            - Isso faz parte da coisa toda.
            - Com certeza. Não se pode fazer nada além de se proteger e cuidar para não sofrer as consequências.
            - Tu já tomaste café?
            - Tomei um pouco e comi um pedacinho de pão. Não estou com muita fome.
            - Vou precisar providenciar algumas coisas para a cozinha. Tu vais junto?
            - Acho que vou. Dessa forma eu conheço os lugares onde tu fazes as compras. Pode ser que um dia eu precise tomar conta do estabelecimento e vou saber onde ir.
            - Seria uma boa ideia aprenderes a dirigir o carro. Tirar carta de motorista também.
            - Tu deixas eu dirigir tua jóia?
            - Não te esqueças que ele é tão teu quanto meu agora. Não temos minhas propriedades, tuas propriedades. Temos nossas propriedades.
            - Vou ver uma auto-escola para aprender e fazer tudo certo. Assim quando sair na rua vou ter tudo documentado.
            - Vamos providenciar isso nos próximos dias.

            Os dois pegaram a lista de compras, verificaram com Francisco a situação do Bar quanto à bebidas e demais ingredientes, depois saíram para tratar das compras necessárias. A presença de Eduarda ao seu lado fez com que demorassem mais, pois ele fazia questão de lhe mostrar cada detalhe, cada lugar, conversar com os atendentes ou proprietários. Dessa forma ela seria conhecida e poderia fazer tudo em sua ausência ou impedimento. Voltaram já era próximo de uma hora da tarde. O almoço já estava terminando, havendo apenas alguns fregueses retardatários, que habitualmente vinham nessa hora para comer, devido às suas atividades. Outros tinham trabalhos mais livres e algumas vezes chegavam cedo, outras vinham mais tarde. Isso era corriqueiro.

            Os auxiliares se encarregaram de descarregar as compras e colocar tudo em seus devidos lugares. Haviam comprado também mantimentos para uso em sua casa, embora na maior parte suas refeições viessem a ser feitas ali mesmo no restaurante. Estavam começando agora a vida de comerciantes. Iriam dividir as tarefas da melhor maneira possível, procurando evitar sobrecarga tanto para um, como para o outro. Almoçaram e Eduarda subiu para dar um jeito no monte de presentes. Verificar o que poderia ser colocado em uso de imediato, o que seria guardado, o que estava duplicado. Infelizmente havia se recusado a fazer a famosa lista de presentes, para não constranger ninguém a gastar o que estivesse for a de suas posses. Considerava presente algo dado de coração e dentro do poder de comprá da pessoa.

            Em algumas ocasiões ouvira pessoas, convidadas para casamentos reclamarem. Tendo sido entre os últimos a fazer a comprá, lhes restara um utem muito caro e que nem eles mesmos dispunham em sua casa. Considerava presente algo da escolha de quem oferece e não uma exigência de quem recebe. Esse procedimento fazia pensar que a festa de casamento tinha por objetivo equipar a casa do casal, sem ser necessário dispor de nada dos recursos próprios. Isso talvez funcionasse entre pessoas todas de mesmo nível econômico, onde essas despesas eram de menor importância. Ao se convidar pessoas queridas, de condição mais humilde, corria-se o risco de provocar situações deveras indesejáveis.

            Ao final da tarde havia empilhado uma porção de itens repetidos, junto com os embalagens e possibilidades de identificação da origem. Talvez seria possível efetuar a troca por outras coisas de que tivessem necessidade. O que não fosse possível trocar, guardaria e usaria para presentear pessoas em ocasiões futuras. Para isso precisaria guardar dentro da embalagem e sem danificar. Havia também louças, jogos de faqueiros, travessas de porcelana, e diferentes objetos. Muita coisa era mais ornamental do que útil, mesmo assim deixaria para escolher em comum acordo com Manoel o que ficaria para seu uso no presente ou futuro.


            A tarde transcorreu depressa. Nesse meio tempo Manoel havia ido ao banco, verificar a situação das contas, os investimentos, pagar taxas e faturas diversas. Era preciso passar em várias agências e dessa forma consumiu a tarde inteira, ficando alguma coisa para o dia seguinte. Era comum precisar enfrentar filas em vários lugares, de forma que não se podia chegar, resolver e sair. 

OBS.: imagens tiradas de páginas na internet, identificadas como imagens de determinado lugar, ou sites da instituição, prefeitura. 


Uberlândia vista noturna.

Aeroporto de Montes Claros.